Aí galera, essa é uma nova tentativa de leva o pós crisma pra internet!!O nosso papel é ser evangelizado no pós e levar esse conhecimento ao mundo. A internet hoje, alcança um grande número de lares pelo mundo, vamos tentar fazer a nossa parte e levar um pouco desse Deus que conhecemos a todos!! Isso é possível através de fotos, vídeos e depoimentos da galera. Então pessoal, vamos postar!! Escrever, me mandem material, vou fazer o possível pra manter esse blog no ar o máximo de tempo. Mas sozinho é difícil, conto com a ajuda do Espírito Santo e de vocês pra levar um pouco mais de Deus para nossos irmãos na Net.

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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Rezando por nossas famílias...

Palavra de Deus: Eclesiástico 3,3-7.14-17; Colossenses 3,12-21; Lucas 2,22-40


A atitude de Maria e de José, em levar o menino Jesus ao templo e apresentá-lo ao Senhor, nos faz lembrar as palavras do Salmo 127,1: "Se o Senhor não constrói a nossa casa, em vão trabalhamos". O que constrói a nossa casa, a nossa família, não é apenas aquilo que as nossas mãos humanas são capazes de fazer, mas sobretudo o fato de colocarmos nas mãos de Deus cada detalhe, cada acontecimento, e procurar construir a nossa família orientados pelos valores da Sua Palavra.
Maria e José foram ao templo para consagrar o menino Jesus a Deus (v.23). É a consciência de que os filhos não são um direito dos pais, mas um dom que Deus lhes concedeu. Os filhos não vêm ao mundo para cumprir os desejos saudáveis ou doentios dos pais. Cada filho tem uma vocação própria e só diante da luz da verdade de Deus é que ele deve descobrir porque nasceu, porque veio ao mundo. Consagrar o filho a Deus é colocá-lo, desde pequeno, aos cuidados do seu verdadeiro Pai.
O v.24 fala da oferenda que Maria e José apresentam como sacrifício. Qual é a oferenda da nossa família a Deus? Num tempo em que as pessoas sacrificam 24 horas por dia para ganhar dinheiro e tentar sobreviver na sociedade de consumo, e sacrificam o dia do Senhor - o domingo - unicamente em vista do próprio lazer, o que nós sacrificamos para que a nossa família viva em Deus? O que sacrificamos ao Pai que permitiu que seu Filho fosse sacrificado por nós?
A cena do evangelho nos fala de duas pessoas idosas: Simeão e Ana. Simeão, homem justo e piedoso. Conseguimos manter ao longo da vida um coração justo e piedoso diante de Deus? Simeão e Ana esperavam a consolação de Deus para seu povo. Temos conseguido esperar em Deus? Esperamos a consolação de Deus, a libertação para toda a humanidade, ou apenas nosso sucesso financeiro ou uma graça estritamente particular? Simeão havia recebido do Espírito Santo a promessa de que não morreria sem antes ver o Cristo. O que esperamos que o Espírito Santo faça por nós? Não deveria ser essa a graça a pedir: que Ele não nos deixe morrer antes de nos encontrar verdadeiramente com Jesus Cristo e sua salvação?
A bênção de Simeão sobre os pais alertou aquela família para a realidade do sofrimento (vs.34-35). Uma família abençoada por Deus é uma família que não sofre? Como lidamos com a dor em nossa vida de família? Você, pai/mãe tem se preocupado em ajudar seu filho a lidar com a dor ou sua maneira de educá-lo cria nele um mundo de fantasia onde a dor não existe, deixando-o despreparado para a vida?
Ana, uma mulher de 84 anos, servia a Deus dia e noite, com jejuns e orações (v.37). Temos mantido nossa fidelidade a Deus ao longo da vida? Ela agradecia a Deus pelo nascimento de Seu Filho Jesus e falava dele a todos os que esperavam a libertação (v.38). Com a sua idade atual, você consegue agradecer a Deus o dom da sua vida ou apenas se torna cada vez mais deprimido(a) com os limites do seu corpo, que aumentam com o avançar da idade? Você tem sabido esperar pela libertação do seu corpo? (cf. Rm 8,23).
Ainda uma palavra sobre Simeão e Ana: como nossa família trata os idosos? Nos assusta ver como cada vez mais as crianças e os jovens são incapazes de conviver com os idosos, mesmo dentro de casa. Neste sentido, o livro do Eclesiástico nos aconselha a amparar os pais na velhice. Mesmo se eles estejam perdendo a lucidez, devido à idade, devemos ser compreensivos para com eles. A caridade para com os pais apaga nossos pecados e nos edifica como pessoas (cf. Eclo 3,14-17).
Por fim, o evangelho termina com esta observação: "o menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele". Para crescer, toda criança necessita de uma família. Se, como adulto, Jesus nos falou de Deus como um Pai amoroso é porque aprendeu isso através da experiência do seu pai adotivo, José. Se, durante sua vida, Jesus sempre procurou fazer a vontade de Deus, foi porque aprendeu isso com seus pais, desde pequeno. Aqui cabe, então, uma pergunta: "Quem é Jesus para esta geração que não freqüenta catecismo e cujos pais têm vergonha de rezar com os filhos e dar-lhes as mãos nas estradas que conduzem ao Transcendente?... Na falta de mística (experiência de Deus), muitos, na adolescência, procuram o êxtase nas drogas. Sem terem consciência disso, gostariam que, atrás da droga ingerida, pudessem experimentar Deus nelas" (Frei Beto).
Rezemos por nossa família, por todas as famílias...
Deus abençoe a sua família!
Pe. Paulo.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Faça-se em mim...

Palavra de Deus: Lucas 1,26-38

"Faça-se em mim segundo a tua palavra!". Neste último domingo do advento, podemos fazer uma breve recapitulação. O que permitimos que a Palavra de Deus fizesse ou gerasse em nós? No 1º. domingo, a Palavra falava de nós como barro e de Deus como nosso Pai e Oleiro, nos convidando à esperança, pois somente quem espera em Deus vê em sua própria vida a realização das Suas maravilhas. Você viveu este tempo de advento colocando-se como barro nas mãos do teu divino Pai e Oleiro? No 2º. domingo, a Palavra nos dizia que deveríamos preparar no deserto e na solidão o caminho para o nosso Deus vir até nós. Neste tempo de advento, você procurou tapar os buracos, nivelar os montes, alisar as asperezas e endireitar o que estava torto no caminho da sua vida? No 3º domingo, a Palavra nos falava do sentimento da alegria, alegria que passa por uma pergunta: "O que você pensa de si mesmo(a)?". Você já sabe responder a essa pergunta?
"Faça-se em mim segundo a tua palavra!". Quando ouvimos a Palavra do Senhor, mas não permitimos que ela faça em nós aquilo que o Senhor deseja, nada muda em nossa vida, assim como nada muda na história da humanidade; nosso ventre continua vazio, nossos esforços não geram nada de novo. O evangelho deste 4º. domingo do advento fala do cumprimento da Palavra de Deus na vida dos fiéis: "Faça-se em mim segundo a tua palavra". O que podemos aprender com este evangelho?
"O anjo Gabriel foi enviado por Deus a... Nazaré". "De Nazaré pode sair algo de bom?" (Jo 1,46). Deus fala na insignificância das pequenas coisas da nossa vida. Ele tem algo a dizer a você, cuja vida pode não ter nada de extraordinário, cuja presença pode ser desprezada, ignorada, não valorizada pelos outros. A você, que talvez neste momento da sua história se pergunte "será que há algo de bom em mim? Será que ainda posso fazer algo de bom para a humanidade?", Deus tem algo a dizer.
"O anjo entrou onde ela estava". O anjo de Deus se manifestou a Gedeão no lugar onde ele estava tentando salvar o trigo dos seus inimigos (cf. Jz 6,11). Deus nos fala a partir da situação que estamos vivendo. Onde você está agora? Como você está agora? O que está acontecendo com você, neste momento da sua história?
"Alegra-te... O Senhor está contigo!... Não tenhas medo... porque encontraste graça aos olhos de Deus". Seja qual for o lugar ou a situação em que você se encontra no momento, o Senhor está contigo! Deus está dizendo agora a você o que ele disse nos momentos mais difíceis da vida de Abraão, de Moisés e de tantos profetas: "Eu estou contigo!". Por isso, alegre-se! Não tenha medo! Quando Agar se sentiu totalmente abandonada e pensou em morrer, o anjo de Deus se manifestou a ela junto a um poço, e ela deu a esse poço o nome de "Laai Roí", que significa o poço "do Deus vivo que me vê" (Gn 16,13). Ainda que você não veja Deus e não O sinta junto de você, é importante saber que Ele te vê e Seu olhar sobre você é um olhar de graça, de compaixão, de misericórdia.
"Vejo eu ainda, depois daquele que me vê" (Gn 16,13). Depois que você se encontra com o anjo (Palavra) do Deus que te vê, você consegue ver de novo, consegue voltar a enxergar. Seu horizonte se amplia e você percebe que a sua existência, ainda que pequena e anônima aos olhos do mundo, está inserida num projeto maior. Você está aqui porque Deus precisa da sua colaboração, para que Seu Filho nasça no coração das pessoas com quem você convive.
"Como pode acontecer isso...?". "O Espírito virá sobre ti". A obra é de Deus. Você é apenas um instrumento - no bom sentido da palavra. Tudo o que você tem a fazer é oferecer-se às mãos do Espírito Santo. Ele saberá "usar" você; Ele converterá as suas fraquezas e imperfeições em canais por onde a Sua graça chegará até o coração das outras pessoas. Você é como um instrumento de corda. Tudo o que tem a fazer é entregar-se às mãos do Espírito, para que ele toque nas suas cordas e faça soar a música de Deus ao coração das pessoas, fazendo Cristo nascer ali. E se você ainda duvida de que algo de bom possa sair de você, apóie-se nesta verdade: "para Deus nada é impossível".
Jesus nos veio por causa do sim de Maria: "Faça-se em mim segundo a tua palavra!". Da mesma forma, hoje Ele vem ao mundo e ao coração das pessoas por meio do seu sim, do seu "faça-se", do seu permitir que a Palavra se cumpra em sua vida. A verdade do Natal depende disso. Ontem dependeu de Maria. Hoje depende de mim e de você, discípulos de Jesus Cristo. Pense nisso.
Bom final de advento!
Pe. Paulo.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Alegria

Palavra de Deus: Isaías 61,1-2.10-11; 1Tessalonicenses 5,16-24; João 1,6-8.19-28

"Se você vier às quatro, desde as três eu começarei a ser feliz" (Exupéry). Quando estamos esperando por uma pessoa querida, nossa alegria aumenta na medida em que se aproxima a hora do encontro com ela. Uma vez que o advento nos prepara para a vinda de Jesus, a proximidade do seu natal - recordando a sua primeira vinda - nos convida à alegria: "Sim! Venho muito em breve!". "Amém! Vem, Senhor Jesus!" (Ap 22).
O sentimento de alegria experimentado por Isaías: "Exulto de alegria no Senhor e minha alma regozija-se em meu Deus" (Is 61,10) e o convite de Paulo: "Estai sempre alegres!" (1Ts 5,16) nos questionam: Estamos alegres? Sentimos alegria? Do que depende a nossa alegria? Para ateus, como o filósofo Nietszche, a falta de alegria no rosto dos cristãos é a prova mais evidente de que Deus está morto dentro deles. Nietszche estava errado ao afirmar que Deus é uma mentira, uma invenção doentia das religiões, mas estava certo ao perceber que Deus está morto na vida de muitos cristãos.
Aquilo que compromete a nossa alegria não provém de fora, mas de dentro. Se deixamos Deus morrer dentro de nós, a nossa alegria morre também. Do que depende a nossa alegria? Ela depende de uma oração persistente: "Orai sem cessar" (1Ts 5,17). Quando oramos estamos reconhecendo que a qualidade da nossa vida depende da qualidade da nossa entrega às mãos de Deus. A nossa alegria depende também do saber agradecer: "Dai graças em todas as circunstâncias" (1Ts 5,18). Não importa o que esteja acontecendo comigo; sempre é possível enxergar algo de bom e agradecer por aquilo. E mesmo que nada esteja bom no momento, também é possível agradecer, pois quanto maior é a dificuldade, maior é a manifestação do amor de Deus que tudo pode mudar em nossa vida.
Nossa alegria depende de não apagarmos o espírito em nós (cf. 1Ts 5,19). O espírito é aquilo que nos anima. "Ânima" significa o feminino de Deus em nós, feminino enquanto sensibilidade, enquanto coragem de ouvir as nossas emoções e de expressá-las, enquanto capacidade de crer no bem. Não apagar o espírito significa não matar a nossa alma, a força de Deus que nos faz transcender o que vemos e o que somos no momento.
Nossa alegria depende de não desprezarmos aquilo que Deus nos fala por meio da sua Palavra e de utilizá-la como um filtro que nos faz reter o que é bom e jogar fora o que não presta, o que não edifica (cf. 1Ts 5,20-21). Enfim, nossa alegria depende de sabermos nos afastar de tudo o que é mau aos olhos de Deus, ainda que pareça bom aos nossos olhos (cf. 1Ts 5,22).
O evangelho nos dá ainda uma outra dica sobre a alegria. Ela depende da resposta que você dá à pergunta: "O que dizes de ti mesmo?" (Jo 1,22). João Batista tinha uma consciência clara a respeito de si mesmo. Ele não se deixou confundir com a pessoa de Jesus Cristo, com a pessoa de Elias e nem com qualquer outro profeta. João Batista não era uma pessoa esquizofrênica ou de personalidade confusa. Muitas pessoas afastam-se da sua alegria interior porque afastam-se da sua verdade. Usando óculos de determinadas doutrinas e filosofias de vida, elas se vêem como a reencarnação de fulano ou de sicrano, afastando-se assim da sua verdade de pessoa única, com uma história única a ser vivida e com uma tarefa única a ser realizada.
João cumpriu a sua tarefa de conduzir a humanidade àquele que é a luz, àquele que está no meio de nós, mas que pode ainda não ser reconhecido por nós. João nos convida hoje, por meio do seu testemunho sobre Jesus Cristo nos evangelhos, a tirar do nosso caminho todas as coisas que nos impedem de ter um encontro verdadeiro e profundo com Jesus, na linha do que Paulo disse: "que tudo aquilo que sois - espírito, alma, corpo - seja conservado sem mancha alguma para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (1Ts 5,23). Nesta terceira semana do advento, apoiemo-nos na fidelidade de Deus, que nos chamou à comunhão com seu Filho Jesus. Deus te abençoe!
Pe. Paulo.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O consolo de ser encontrado(a)

Palavra de Deus: Isaías 40,1-5.9-11; 2Pedro 3,8-14; Marcos 1,1-8

No filme "O som do coração", um homem pergunta a um menino órfão: "Qual é o seu maior desejo?". E o menino responde: "Quero ser encontrado". Assim como o personagem desse filme, há uma música dentro de nós que a todo tempo entoa o desejo de sermos encontrados. Por quem desejamos ser encontrados? Além das pessoas que constituem as raízes da nossa vida, nós desejamos ser encontrado por Deus, como expressa esta oração de Santo Agostinho: "Senhor, o nosso coração foi feito para vós e não descansaremos enquanto não repousarmos em vós".
Nós desejamos ser encontrados por Deus como o barro deseja ser encontrado pelo seu oleiro (reflexão da semana passada), mas para que esse encontro se realize precisamos "preparar no deserto o caminho do Senhor, aplainar na solidão a estrada de nosso Deus" (Is 40,3). O encontro com Deus começa pelo encontro com o nosso próprio deserto, com a nossa própria solidão. É lá que devemos abrir o caminho, a estrada, para que Deus chegue até nós. O desencontro que sentimos entre nós e Deus é conseqüência do desencontro de nós mesmos com o nosso deserto, com a nossa solidão interior. Se temos medo de nos confrontar com eles, nosso encontro com Deus fica comprometido.
Quando temos a coragem de olhar para a nossa estrada interior, o que vemos nela? Vales, montes e colinas, tortuosidade, asperezas... Por isso diz o profeta: "Nivelem-se os vales, rebaixem-se todos os montes e colinas, endireite-se o que é torto e alisem-se as asperezas" (Is 40,4). Os vales são os buracos que nós deixamos abertos, as coisas não resolvidas que não tivemos a coragem de enfrentar e tentamos esconder debaixo do tapete do nosso inconsciente. Os montes e as colinas são as nossas atitudes de orgulho, de vaidade, de pessoas que tentam a todo instante passar para os outros uma imagem de pessoas vencedoras, fortes, capazes, resolvidas, uma imagem falsa que nega, a todo instante, os nossos limites, a nossa fraqueza, o nosso humano. A tortuosidade é a imagem de uma pessoa que não age pela consciência, mas pela conveniência, desviando-se da verdade e da justiça, quando elas se apresentam por demais exigentes. Por fim, as asperezas expressam a imagem de uma alma aflita, de um coração consumido pela ansiedade, de uma vida agitada, resultado de uma pessoa que não tem a coragem de ouvir a sua música interior e de perceber para onde ela aponta.
Somente quando colocamos em ordem nosso caminho interior é que podemos ver a presença de Deus junto a nós. Somente quando colaboramos para colocar em ordem a estrada social do meio em que vivemos, marcada por tantas desigualdades e injustiças, é que as pessoas à nossa volta podem ver a presença de Deus em nosso mundo (cf. Is 40,5). Se a estrada de muitos de nós foi abandonada e o caminho deixado ao léu, é porque desistimos de esperar pelo nosso Deus, desistimos de ouvir a nossa música interior, expressão do nosso desejo de sermos encontrados. Por que será que Deus está demorando tanto? Porque para ele "um dia é como mil anos e mil anos como um dia". Sua promessa não falhou. Na verdade, ele está sendo misericordioso, concedendo tempo para as pessoas se converterem (cf. 2Pd 3,9). O silêncio de Deus não é prova da sua ausência em nossa vida ou do seu descaso pela humanidade, mas o espaço necessário para que a música divina do encontro volte a ser ouvida por nós.
No horizonte da estrada da humanidade existe uma imagem que nos preocupa, a imagem de um fogo que deverá consumir todas as coisas. Esse fogo, símbolo do julgamento de Deus, deve, em primeiro lugar, destruir tudo o que é injusto aos olhos de Deus. Ao mesmo tempo, ele purificará e transformará o coração humano, lugar onde nascem as injustiças. Por isso, "o que nós esperamos são novos céus e uma nova terra, onde habitará a justiça" (2Pd 3,13). Essa esperança deve produzir em nós a perseverança numa vida santa e piedosa, numa vida pura, sem mancha e em paz. Então, na medida em que tivermos preparado o caminho do Senhor, apelo retomado por João Batista no evangelho, veremos o nosso Deus vindo com poder, reunindo com a força do seu braço seus filhos e carregando-os no seu colo de Pai, imagem da sua consolação para a humanidade. Cabe a cada um de nós, neste tempo de advento, a missão confiada ao profeta Isaías: "Consolai o meu povo, consolai-o". Termino esta reflexão propondo-lhe meditar sobre a música abaixo. Boa continuação de advento! Pe. Paulo.

Consolo (Adriana)

Deus tem cuidado de vós! Sim, Deus tem cuidado de vós! Sua força é o amor derramado entre nós. Porque Deus tem cuidado de vós!
Deus tem cuidado de ti! Sim, Deus tem cuidado de ti! Sua força é o amor derramado sem fim. Porque Deus tem cuidado de ti!
Ele não permitirá que um amado Seu sofra mais do que possa suportar. Ele assim prometeu e cumprirá. Toda lágrima há de enxugar.
Levanta-te! Alegra-te! Aflições no mundo encontrarás. Levanta-te! Alegra-te! Porque é certo, a vitória virá!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Balanço

Palavra de Deus: Ezequiel 34,11-12.15-17; 1Coríntios 15,20-26.28; Mateus 25,31-46.
A cada ano, as empresas fazem seu balanço para perceberem se estão tendo lucros ou prejuízos, para corrigirem erros e melhorarem seu desempenho. Isso vale também para a vida de qualquer pessoa. No final de cada ano, precisamos parar para perceber em que direção está caminhando a nossa vida, se estamos nos aproximando ou nos distanciando da meta proposta pelo evangelho, para perceber também o que deve ser confirmado e o que deve ser modificado em nós. O evangelho de hoje se apresenta como a ferramenta que nos ajuda a fazer esse balanço. Se no momento atual, tudo está disperso e cada um segue o seu caminho, no dia final da história da humanidade todos serão reunidos diante do Filho, a quem o Pai confiou todo julgamento (cf. Jo 5,22). Se agora tudo está misturado em nós - a luz e as trevas, o bem e o mal, a graça e o pecado - no último dia Jesus Cristo fará uma separação, porque só ele conhece o ser humano por dentro (cf. Jo 2,25), só ele é capaz de penetrar no espírito humano e discernir as intenções, os desejos, as razões que nos levaram a agir desse ou daquele modo. No momento do nosso julgamento, ficará claro que tiveram uma vida bem sucedida não os que percorreram a estrada do sucesso ou de uma vida farta de consumo, mas os que tiveram a coragem de percorrer a estrada do evangelho, estrada que passa pelo caminho onde se encontram os crucificados da humanidade, os que têm fome e sede, os que estão nus, doentes ou presos, os que são migrantes. A maneira como nos comportamos em relação a essas pessoas é a maneira como nos comportamos em relação ao próprio Jesus Cristo. Enquanto o sistema financeiro mundial destina bilhões de dólares aos bancos e banqueiros falidos, Jesus aponta para os bilhões e famintos e sofridos do mundo. Enquanto muitas igrejas disputam fiéis entre si, atraindo-os por meio da teologia da prosperidade, Jesus pergunta a nós, cristãos, o que temos feito em relação às injustiças sociais. Enquanto a nossa fé vive tão voltada para as nossas necessidades particulares, Jesus nos aponta para o sofrimento das outras pessoas (queda na doação de alimentos - indiferença dos jovens em relação a isso, falta de voluntários para a Pastoral da Criança, falta de membros para a visita aos doentes na Jesus Crucificado). Há quem veja na crise mundial uma oportunidade de que uma parte da humanidade seja exterminada "naturalmente", através da fome, o que "aliviaria" o Planeta Terra, que não suporta o atual nível de consumo. - os pobres - já que a Terra não comporta mais o nível de consumo do ser humano. Mas o evangelho aponta numa outra direção: a solução não é eliminar consumidores e sim modificar o nosso consumo. A questão não é se você é um privilegiado sobrevivente da crise mundial, mas o que você está fazendo para socorrer quem precisa ser socorrido. No meio de uma situação parecida com a atual, quando milhares de pessoas estavam dispersadas num dia de nuvens e escuridão, Deus disse: "Eu mesmo apascentarei o meu rebanho... Buscarei a perdida, reconduzirei a desgarrada, cuidarei da fraturada, restaurarei a abatida. Eu as apascentarei com justiça" (Ex 34,15-16). Você se dispõe a ser um voluntário de Deus nesta missão humanitária? Para nós, cristãos, o fim da história não é a sobrevivência de alguns poucos, mas a submissão de toda a humanidade à verdade do evangelho, sabendo que o fim se dará quando Jesus entregar a realeza a Deus Pai, depois de ter submetido tudo a seus pés. O último inimigo a ser destruído será a morte. Depois disso, o próprio Jesus se submeterá Àquele que tudo lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos (cf. 1Cor 15,24-28). É para este horizonte que nossos pés caminham, não para o buraco negro do mercado.
Deus te conceda um balanço consciente e uma boa semana! Pe. Paulo.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Desenterrando talentos

Palavra de Deus: 1Tessalonicenses 5,1-6; Mateus 25,14-30
Há algum tempo atrás se anunciava que o comércio esperava por um Natal muito bom neste ano, no sentido de que se venderia muito. Mas a sensação de que estávamos todos em paz e segurança econômica foi desfeita com a crise global dos mercados. "Quando as pessoas disserem '(estamos em) paz e segurança!', então de repente sobrevirá a destruição" (1Ts 5,3). Com essas palavras, Paulo nos fala de segunda vinda de Cristo. Ele nos alerta que não podemos nos iludir com a busca de uma vida estável e segura neste mundo, mas manter a consciência de que, na hora em que menos imaginarmos, Jesus Cristo virá para nos conduzir à verdadeira vida. Para quem não crê nas Escrituras e na promessa de uma vida eterna, a vinda de Cristo é sentida como a vinda de um ladrão que vem roubar o que temos de mais precioso. Portanto, é uma vinda não desejada. Mas para quem crê, para os que estão na luz da fé, a vinda de Cristo é esperada com alegria. Será o momento em que veremos face a face, em que conheceremos como somos conhecidos, em que o imperfeito se tornará perfeito (cf. 1Cor 13,12). Então, o convite do apóstolo é: não durmamos, não vivamos uma vida sem compromisso com o evangelho, mas vigiemos e sejamos sóbrios, estando atentos aos sinais e aos apelos da vinda do Senhor. Jesus, através da parábola dos talentos, responde como vigiar e ser sóbrio. O que é um talento? É uma imagem usada por Jesus para falar dos dons que cada um de nós recebeu de Deus, para falar dele ao mundo. Cada pessoa é única e, como lembra A. Grün, "cada um possui algo de Deus a comunicar que só pode ser dito através dele". Assim, a imagem do talento contém uma pergunta: Qual é a mensagem que só por meio de você pode ser anunciada? O Documento de Aparecida nos desafia a assumir a nossa identidade de discípulos missionários de Jesus Cristo; não somente discípulos, não somente ouvintes da Palavra e consumidores de sacramentos, mas missionários, pessoas cuja maneira de viver anuncie Jesus Cristo ao mundo. Para isso, o Espírito Santo nos capacitou com os seus dons. Para isso, o evangelho nos chama à fidelidade: "Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!" (Mt 25,21). Administrar o pouco, a rotina do dia-a-dia, a casa, as pequenas atividades diárias. Administrar nossa pequena casa interior, nossa vida emocional. Viver de tal modo que Deus seja percebido pelas pessoas que convivem conosco, ainda que não falemos explicitamente d'Ele. Contudo, existe o risco da infidelidade, o risco de se enterrar os talentos recebidos. Nós podemos enterrar os nossos talentos debaixo da raiva, da mágoa, do ciúme. Existem pessoas que enterram seus talentos porque estão magoadas ou com raiva do padre ou da Igreja. Existem aqueles que enterram seus talentos por comodismo. Existem ainda aqueles que mantêm seus talentos enterrados por medo de receberem críticas, se esquecendo de que as pessoas só jogam pedras em árvores que produzem frutos. Seja qual for a causa (raiva, mágoa, comodismo ou medo), cada talento enterrado priva a comunidade e a sociedade de crescer, de se tornar melhor. Um homem visitou um museu em Gênova e viu embutido numa parede o violino de Paganini lacrado por um vidro. Ele pensou: "Quantas músicas Paganini conseguiu retirar desse violino! E agora ele está aqui, mudo, sem que ninguém possa tocá-lo e fazê-lo cantar!". Assim somos nós, quando mantemos nossos talentos enterrados, longe do serviço de Deus. Somos um belo instrumento, portadores da capacidade de entoar músicas maravilhosas, mas nos mantemos lacrados, vedados por uma grossa camada de vidro. As pessoas nos vêem, reconhecem a nossa capacidade, mas não podem usufruir da mensagem que poderíamos transmitir a elas. De alguma forma, estamos fechados em nós mesmos, em nossas feridas e decepções humanas... Deus não é alguém que colhe onde não semeou. Se Ele nos faz algum tipo de "cobrança" no evangelho de hoje, é no sentido de nos convidar a desenterrar os nossos talentos, a permitir que o violino que somos seja colocado em Suas mãos, para que a mensagem única que ele imprimiu em nós ao nos criar seja anunciada ao mundo pela única pessoa que pode fazer isso: nós. "A todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado" (Mt 25,29). Um violino que permite ser tocado terá suas cordas flexíveis e "grávidas" de música, mas um violino que não permite ser tocado terá suas cordas enrijecidas e enferrujadas, que se quebrarão com o tempo e nada mais poderão tocar.
Deus te abençoe e te conceda uma boa semana!
Pe. Paulo.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Mais do que um corpo, um Templo

Palavra de Deus: Ezequiel 47,1-2.8-9.12; 1 Coríntios 3,9c-11.16-17; João 2,13-22

Dedicação da Basílica do Latrão

Por que celebrar a Dedicação de uma Basílica que se encontra tão distante de nós, em Roma? A Basílica do Latrão foi a primeira catedral construída em Roma, no século IV, no morro do Latrão, e que foi, durante muito tempo, a catedral do Papa. Por isso, ela é considerada mãe de todas as igrejas católicas espalhadas pelo mundo e lembra que todos nós somos pedras vivas do edifício espiritual de Deus (cf. 1Pd 2,5).
Desde a antiguidade, o templo é o lugar do encontro com Deus. No evangelho de hoje, Jesus faz uma relação entre o Templo de Jerusalém e o seu corpo. Jesus é o verdadeiro Templo porque é por meio dele que podemos nos aproximar de Deus com plena confiança (cf. Ef 3,12). Essa imagem do corpo de Jesus como Templo foi profetizada por Ezequiel como o Templo dentro do qual sai um rio de água que desemboca no Mar Morto e converte suas águas em águas que geram vida. Além disso, a água que escorre do Templo passa pelos campos e faz crescer árvores cujos frutos servem de alimento e cujas folhas servem de remédio (cf. Ex 47,1-2.8-9.12).
Jesus assume para si esta profecia, ao gritar no Templo: "Quem tem sede, venha a mim e beba, aquele que crê em mim. Como diz a Escritura: 'do seu seio jorrarão rios de água viva'" (Jo 7,37-38). Diante dessa imagem e desse convite de Jesus, você pode se colocar diante de um crucifixo e utilizar a música "Lava-me", da Celina Borges, para fazer sua oração, permitindo que a água que saiu do peito de Cristo na Cruz (cf. Jo 19,34) deságüe naquilo que na sua vida é hoje um "mar morto"; você pode permitir que esta água escorra até as raízes da árvore da sua vida, e possa produzir em você alimento e cura...
O que levou Jesus a expulsar os vendilhões do Templo com um chicote foi o zelo pela casa de Deus (cf. Jo 2,17). Como anda o seu zelo pela igreja que você freqüenta? Ainda que você não freqüente nenhuma igreja neste momento, mas se considere católico, você tem consciência da sua responsabilidade pela manutenção da sua igreja? Muitas pessoas não medem esforços por renovar seus bens materiais, por melhorar sua casa, seu carro, mas não se importam em contribuir com o dízimo na religião que professam. Você tem zelo por sua igreja, por sua comunidade? Você se envolve nas necessidades do trabalho evangelizador da sua paróquia?
Além de Jesus ter relacionado o Templo com o seu próprio corpo, o apóstolo Paulo nos pergunta: "Acaso não sabeis que sois o santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?" (1Cor 6,16). Voltando à imagem da água que sai do Templo, a ciência diz que 65% do nosso corpo (adulto) é composto por água. Como anda o zelo pelo seu corpo? Quanto há nele de nicotina, de álcool e de resíduo de outras drogas? Quanto há nele de resíduos de ansiolíticos, porque você não tem sabido interpretar os apelos do seu próprio espírito? Lembremos do problema da somatização: uma vida emocional desequilibrada, descuidada, provoca doenças em nosso corpo.
Jesus usou um chicote para expulsar do Templo aquilo que o profanava. O que esse chicote de Jesus teria a dizer para a sua sexualidade? Como você lida com os apelos do seu corpo? Você tem sido um bom jardineiro, administrando a sua sexualidade, ou já entregou seu jardim aos animais selvagens, fazendo do seu corpo não o santuário da sua afetividade, mas um mero laboratório de experiências sexuais, na tentativa desesperada de sentir-se amado?
O advogado Miguel Reale Júnior, no seu artigo "Corpo esculturado, mente insana", escreveu: "... colocar silicones, injetar substâncias químicas para dar a forma almejada... Garotas sem tempo para ler, para exercitar a imaginação..., dedicadas exclusivamente à ginástica autocentrada em frente ao espelho... Não se está nunca em paz com a própria imagem corporal... Parecem almejar ser cadáveres elegantes, mas sem a visão escatológica da ressurreição dos corpos... A aparência predomina sobre a substância. Na nova escravidão, seqüestra-se o espírito: só existe o corpo. E se esquece que os dois, corpo e espírito, devem ser alimentados simultaneamente para uma vida significativa". Você tem liberdade suficiente para não ceder aos apelos da ditadura do corpo perfeito? Pense nesta expressão: "cadáveres elegantes"...
Por fim, acolha as palavras "Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, pois o santuário de Deus é santo, e vós sois esse santuário" (1Cor 6,17) não como um cinto de castidade ameaçador e repressor, mas como um apelo para uma visão mais profunda de si mesmo e da sua dignidade. Se o seu Templo já foi profanado e teve partes destruídas, lembre-se daquele que disse: "Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei" (Jo 2,19). As Suas mãos, que purificaram o Templo de Jerusalém, podem reedificar o Templo que você é...
Deus te abençoe.
Pe. Paulo.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Buscar o essencial

Palavra de Deus: Mateus 22,34-40

Vivemos numa cultura de excesso: excesso de informações, de palavras, de imagens, de estímulos, de ofertas, de alternativas, de opções... Não temos tempo, nem condições, de digerir esse excesso. Então, precisamos procurar pelo essencial. Na época de Jesus, a religião judaica havia se contaminado pela cultura do excesso: os fariseus e doutores da Lei haviam transformado os 10 mandamentos em 613 normas e prescrições. Por isso, ali também se sentia a necessidade de saber o que era essencial. Perguntar pelo maior mandamento nada mais é do que perguntar pelo que é essencial na relação com Deus.
O que é, então, essencial na vivência religiosa? Jesus responde: "Amarás o Senhor teu Deus... Amarás ao teu próximo... Toda a lei e os profetas (isto é, toda a Bíblia) dependem desses dois mandamentos". Diante da resposta de Jesus, alguém poderia perguntar: "como é possível mandar alguém amar?". Só podemos compreender isso se entendermos que o amor tem suas exigências próprias: ele pede compromisso, fidelidade, constância, dedicação, sacrifício. Na verdade, amar não depende apenas de sentir amor, mas de comprometer-se com a pessoa e de fazer por ela o que é preciso, independente do que estamos sentindo no momento.
"Amarás o Senhor teu Deus". Só consegue amar quem fez a experiência de ser amado. No caso de Deus, a Escritura diz: "Não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele quem nos amou e enviou-nos seu Filho..." (1Jo 4,10). Eu só posso amar a Deus se primeiro tiver um conhecimento íntimo do Seu amor por mim. É exatamente aqui que a "engrenagem" está enroscada em muitos de nós. Falta-nos uma experiência real do amor de Deus. Por isso, "amarás o Senhor teu Deus" soa como uma exigência externa, quando poderia ser uma resposta espontânea de todo o nosso ser Àquele que nos amou primeiro.
O essencial não é somente amar a Deus, mas amá-Lo "de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o entendimento!". Se você quiser fazer um exame a respeito disso, pergunte-se: que lugar Deus ocupa, de verdade, na minha vida? Quanto tempo eu dedico para a oração no meu dia-a-dia? Eu contribuo com o dízimo? Se sim, faço isso com alegria ou por obrigação? Na minha oração, eu busco a Deus por Ele mesmo ou por aquilo que espero que Ele faça por mim? Não se assuste com as respostas a essas perguntas. Para a maioria de nós, elas vão revelar que passamos a maior parte da nossa vida, inclusive religiosa, fazendo grandes coisas sem nenhum amor, quando o essencial é fazer pequenas coisas com um grande amor.
Depois de revisar como anda o nosso amor a Deus, Jesus nos pergunta como anda o nosso amor ao próximo. Ex 22,20-26 declara quem é o nosso próximo: o estrangeiro, a viúva, o órfão, o pobre, ou seja, é alguém de carne e osso, alguém que é a nossa carne, humano como nós, alguém que embora não tenha nenhum laço de sangue conosco, faz parte da nossa família humana e não dá para desviar o olhar e fazer de conta que ele não existe. Assim como os apelos do nosso próximo tocam o coração de Deus, eles devem tocar também a nossa consciência.
"Quem não ama seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê" (1Jo 4,20). Jesus declara que o amor a Deus é inseparável do amor ao próximo. Isso nos ajuda a questionar a maneira como a religião é vivida por muitas pessoas hoje: "eu e Deus", sem lugar para o próximo. O Documento de Aparecida pergunta: como se explica que o aumento do número de igrejas e de cristãos não diminua o aumento da injustiça, da violência e da corrupção? Como se explica que nós, cristãos, nos acostumamos com nossa sociedade injusta, corrupta, violenta, que continuamente desrespeita a dignidade humana, e continuamos a nos contentar com a nossa prática religiosa individual?
Há algo de muito errado nesse jeito moderno de viver a fé de maneira individualista. Buscamos a paz com Deus sem nos importar com a falta de paz na vida do nosso próximo. É certo que amar o próximo não é fácil, mas é preciso lembrar o que foi dito acima: amar não depende apenas de sentir amor, mas de comprometer-se com a pessoa e de fazer por ela o que é preciso, independente do que estamos sentindo no momento. Ainda que não seja possível simpatizar-nos com cada pessoa, nem gostar de cada pessoa, é possível superar antipatias e aversões, buscando edificar o Reino de Deus na sociedade humana.
"Aquele que não ama permanece na morte" (1Jo 3,14). Para evitar o sofrimento (decepção com Deus ou com as pessoas), estamos deixando de amar, estamos nos fechando em nós mesmos. Isso pode funcionar como preservação de si mesmo, mas não funciona como qualidade de vida. O sentido da nossa vida não está no quanto nos preservamos, mas no quanto nos doamos; não está no fato de fazermos grandes coisas sem nenhum amor, mas de fazermos pequenas coisas com um grande amor. Tão doentio quanto o amor que mata o outro, porque ele não me ama como eu exijo (morte de Eloá) é optar por não amar ninguém. Optar por não amar é optar por não viver. Pensemos nisso.
Tenha uma boa semana!
Pe. Paulo.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O que pertence a César? O que pertence a Deus?

Palavra de Deus: Mateus 22,15-21
"Eu salvei você!". Essa era a foto do "Tio Sam", estampada na capa da revista Veja (24/09), a figura de um homem apertando nas mãos alguns dólares, para insinuar que o pacote que o governo norte-americano estava financiando iria salvar o mundo de um colapso. Uma semana depois a notícia precisou ser reformulada, pois o pacote não foi suficiente para acalmar o nervosismo dos investidores. Se a imprensa mundial trabalhasse com a verdade, a notícia real deveria ser: "Eu não posso salvar você!". Ele, o "Tio Sam", não pode salvar nem a mim, nem a você, nem a si mesmo; ele é apenas "um homem", um sistema humano cheio de falhas, injustiças e contradições. Talvez não haja entre nós alguém que faça investimentos na Bolsa de Valores. Mas a crise financeira, noticiada todos os dias pelos meios de comunicação social, tornou-se conhecida por todos nós e, mais cedo ou mais tarde, nos atingirá a todos. É o mundo financeiro "derretendo", como disse um economista. É César deixando cair a sua máscara de deus e revelando-se como um ídolo cujos pés são de barro. O evangelho nos fala que dois grupos opostos, os herodianos (serviçais da dominação romana) e os fariseus (contrária a ela) se uniram e armaram uma cilada, na esperança de fazer Jesus cair em contradição: "É justo ou não pagar o imposto a César?". Se Jesus respondesse "sim", seria visto como um opressor do povo; se respondesse "não" seria denunciado como subversivo político. Ele responde com uma outra pergunta: "De quem é a figura e a inscrição desta moeda (a moeda do imposto)?". Segundo historiadores, a inscrição seria "Tibério César Filho do Divino Augusto, Sumo Pontífice", mostrando as pretensões do Império Romano à divinização. Como eles disseram: "De César", Jesus respondeu: "Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Assim, Jesus colocou para os seus ouvintes - e hoje coloca para cada um de nós - uma pergunta essencial: o que pertence a César, e o que pertence a Deus? César é o imperador. Houve uma época em que Israel não tinha rei. Deus era o seu Rei. Mas Israel quis ser "como os outros povos", quis ter um rei. O profeta Samuel se colocou contra esse desejo de Israel, mas Deus lhe disse: "Faça o que esse povo está lhe pedindo, pois não é a você que eles rejeitam, mas a mim, porque não querem mais que eu reine sobre eles" (cf. 1Sm 8,6-7). Com exceção do rei Davi, do rei Ezequias e do rei Josias, todos os outros reis que governaram Israel "fizeram o que era mau aos olhos de Deus", segundo 1-2 Reis. O resultado é que, na época de Jesus, Israel estava sem rei, debaixo da autoridade romana. Apesar de vivermos num regime democrático, vale a pena cada um se perguntar: debaixo de qual dominação eu me encontro? Quem foi o rei que eu escolhi para reinar em minha vida, no lugar de Deus? Deus de fato reina em mim ou o culto que presto a Ele é apenas uma forma de fazer prosperar no meu bolso a moeda de César? Dar a César o que é de César significa lembrar àqueles que nos governam que eles são administradores e não predadores do bem comum; a autoridade deles merece nosso respeito enquanto uma autoridade que se coloca a serviço da vida do povo, e não como dominação que manipula a vida humana segundo os interesses dos especuladores financeiros. Quando quis ver a moeda do imposto, Jesus precisou pedi-la aos que o interrogavam. Ele não tinha a moeda. Não tinha porque era pobre, porque sempre viveu como pobre. Não tinha porque sempre deu a Deus o que era de Deus. Não tinha porque o Pai sempre reinou em sua vida. Como cristãos, nós participamos da realeza de nosso Senhor Jesus. Na prática, isso significa lembrar que "rei é aquele que cria ordem em si, que estrutura não somente o reino exterior, mas também o âmbito interior de sua alma de uma forma boa... Rei é aquele que pára de responsabilizar os outros por sua situação e toma sua vida nas próprias mãos" (A. Grün). Dar a Deus o que é de Deus é permitir que Ele reine em nós e que o nosso mundo se torne reflexo do Seu reino de justiça e de paz. É assumir aquilo que rezamos no início da nossa celebração, neste dia mundial das missões: "a consciência de que (todos nós somos) chamados a trabalhar pela salvação da humanidade". E esta salvação começa a se fazer sentir em nossa história quando fica claro que a humanidade pertence a Deus e deve guiar sua consciência pelos critérios da Palavra de Deus; ela não pertence aos especuladores do mercado financeiro e jamais deve guiar sua consciência por eles. Deus conceda discernimento e liberdade suficientes para dar a César o que é de César e a Ele o que é d'Ele.
Boa semana!
Pe. Paulo.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

O lugar de Maria

Palavra de Deus: Jo 2,1-11

"Não há no mundo ninguém que não precise de uma mãe. Até o Filho de Deus teve os carinhos de uma mãe" (Anjos de Resgate, Mãe da fé). Todos nós nascemos biologicamente de uma mãe. Mas, seria possível dizer também que, no plano espiritual, todos nós temos uma Mãe? Hoje a nossa Igreja se volta para a mãe de Jesus, Maria, proclamada como Padroeira do Brasil, para nos ajudar a compreender melhor qual o papel de Maria na história da salvação e como podemos aprender com ela a ser discípulos de seu Filho Jesus Cristo.
Apesar do desejo de Jesus de que todos os cristãos sejam unidos, para que o mundo creia que o Pai o enviou (cf. Jo 17,20-21), a figura de Maria ainda é motivo de discussão, divisão e separação entre muitos de nós, católicos, e uma boa parte dos nossos irmãos evangélicos. Apesar de Maria ter proclamado: "todas as gerações me chamarão de bem-aventurada" (Lc 1,48), ainda existe muita polêmica em torno do nome de Maria, como se tivéssemos que fazer uma escolha: ou Maria, ou Jesus Cristo; ou Maria ou Deus. Mas, será que é correto ver Maria em oposição a Deus, quando ela mesma proclamou: "Minh'alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus, meu Salvador" (Lc 1,46-47)? Será que é correto pensar que se queremos ficar com Jesus Cristo, temos que jogar Maria fora da nossa espiritualidade?
O evangelho de hoje (Jo 2,1-11) nos mostra Maria e seu Filho Jesus Cristo trabalhando juntos em favor da humanidade. As bodas de Caná retratam a imagem bíblica do casamento como expressão da união entre Deus e a humanidade. A falta do vinho, símbolo da alegria, mostra que o ser humano não está conseguindo ser feliz, pois sua união com Deus foi rompida pelo pecado. Maria, como mãe e mulher, é sensível ao que está acontecendo e pede a seu Filho que faça alguma coisa. Jesus responde que a sua hora de derramar o sangue (vinho novo) pela salvação da humanidade ainda não chegou, mas sua mãe insiste que se faça alguma coisa já ali, naquele momento, e diz aos servos: "Façam tudo o que ele vos disser".
Aqui aparece a grandeza de Maria. No evangelho segundo s. João, a figura de Maria aparece somente aqui e aos pés da cruz, quando será dada como mãe ao discípulo amado (cf. Jo 19,25-27). Jesus, que apesar de não chamar Maria de "mãe", mas de "mulher", usou o nome "mãe" ao confiar cada um de nós, seus discípulos, aos cuidados de Maria. E o que nos diz a nossa mãe? "Façam tudo o que ele vos disser". Maria não nos foi dada como mãe para tomar o lugar de Jesus Cristo em nossa vida, mas para nos remeter constantemente a ele, pois o verdadeiro discípulo é aquele que faz tudo o que o seu Mestre e Senhor lhe ensina.
Quando fazemos tudo o que Jesus nos ensina no seu evangelho, a nossa tristeza (falta de vinho) se converte em alegria (vinho novo). Mas a falta do vinho (alegria) em Caná pode nos dizer mais coisas. Talvez esteja nos faltando alegria porque não estamos sabendo cultivar nossas relações; porque nos acostumamos com a idéia de que as coisas sempre começam bem e sempre terminam mal; porque não sabemos lidar com a rotina; porque ficamos girando em torno dos nossos problemas ao invés de escutarmos aquilo que Jesus tem a nos dizer; porque não estamos dispostos a fazer o que Jesus nos diz... As razões podem ser muitas, mas é bom saber que, se decidirmos nos deixar orientar por aquilo que Jesus nos diz no seu evangelho, nossa água pode se transformar em vinho e o vinho novo (dom do Espírito que faz novas todas as coisas) dará um novo sentido para a nossa vida.
Qual é, então, a falta de vinho que você experimenta em sua vida, neste momento? O que foi que perdeu o gosto, o sentido, em você? O que "virou água"? Lembre-se do conselho de Maria: "faça tudo o que o meu Filho lhe disser". Encha a sua talha com aquilo que você quer que seja transformado, e leve até Jesus. Clame pelo Espírito Santo: "Então vem, Espírito Santo, com tudo o que tens e tudo o que és! Ó vem, Espírito de Deus, do alto de tua casa traz vinho novo aos odres meus!". Hoje é o Dia da criança. Muitas crianças não têm mais vinho (alegria) porque famintas e doentes; órfãs de pai, de mãe ou de ambos; sufocadas de bens materiais, mas desnutridas de valores autênticos; mimadas em excesso ou tratadas com violência; agredidas pela propaganda de consumo, pela pornografia precoce ou pelo estresse de seus pais; incentivadas a ter um lugar na sociedade competitiva, mas alheias ao lugar que Deus deveria ocupar em suas pequenas vidas... Também sobre elas vamos invocar o Espírito Santo de Deus...
A título de conclusão, nossa devoção a Maria deve apoiar-se no conselho do apóstolo Paulo: "Sejam meus imitadores, como eu mesmo o sou de Cristo" (1Cor 11,1). Nossa espiritualidade mariana será autêntica na medida em que imitarmos Maria na sua obediência à Palavra (cf. Lc 1,38), na sua perseverança em relação à vida de oração (cf. At 1,14), no seu modo de lidar com os conflitos (cf. Mt 2,13-15.19-23), na sua preocupação com as necessidades do próximo (cf. Lc 1,39-56; Jo 2,1-5), no seu modo de lidar com a dor (cf. Lc 2,33-35; Jo 19,25-27), na sua capacidade de enxergar a vida de uma maneira mais profunda (cf. Lc 2,19.51) e na observância do seu conselho em fazermos tudo o que seu Filho nos disser (cf. Jo 2,5).
Bom domingo e boa semana!
Pe. Paulo.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Visitando nossa própria vinha...

Palavra de Deus: Isaías 5,1-7; Filipenses 4,6-9; Mateus 21,33-43.

"Nós, apóstolos, somos colaboradores de Deus, e vocês são a plantação de Deus" (1Cor 3,9). Essa expressão do apóstolo Paulo nos ajuda a entender melhor o que Jesus acaba de nos falar no evangelho. Deus confiou sua plantação (seu povo) às mãos de agricultores (líderes políticos e religiosos judaicos) e espera colher os devidos frutos: uma vida onde haja justiça, dignidade e paz. Contudo, os responsáveis pelo cuidado da plantação se apossaram dela (tornaram-se pastores de si mesmos) e não entregaram os frutos para o dono da plantação. Por isso Jesus disse aos líderes religiosos da sua época: "o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos". Historicamente, o que vemos aqui é a passagem da religião judaica para a religião cristã, para o nascimento da Igreja, o novo povo de Deus.
Porém, nem mesmo a Igreja pode se ver tranqüila diante das palavras de Jesus, pois o evangelho está alertando para o fato de que nenhum povo, nenhuma igreja, nenhum líder religioso pode assentar-se no trono de seu domínio e achar-se possuidor do reino. Deus destitui toda autoridade, civil ou religiosa, que ao invés de conduzir seu povo à vida, o deixa caminhar para a morte. Todavia, o apelo do evangelho não se dirige apenas às autoridades, e sim a cada um de nós, plantação de Deus. Podemos ver nele, então, um apelo global e também individual.
Apelo global. A vinha de Deus pode ser identificada com o planeta Terra, cuidadosamente criado pelo Pai e colocado nas mãos dos filhos para ser cultivado. Contudo, segundo Is 5,5-6, a cerca foi desmanchada, o muro foi derrubado (perda de proteção da camada de ozônio, perda dos limites para a exploração de certos bens). Consequentemente, os animais selvagens passaram a devastar a vinha (nós mesmos, seres humanos, com o nosso consumo "selvagem"). Essa vinha não é mais podada, nem lavrada (não aceitamos podas, limites para o nosso consumo). Assim espinhos e sarças tomaram conta dela (poluição, lixo, aquecimento global...). Diante disso se coloca o apelo de Deus: ou mudamos nossa conduta, ou a vinha (Terra) será tirada de nós e dada a um povo que cuide melhor dela. Aliás, alguns cientistas dizem que a Terra, com as reações próprias da natureza, está se encarregando de expulsar dela seu maior predador, o ser humano...
Num apelo mais individual, o evangelho nos lembra de que cada um de nós é uma plantação de Deus. Desse modo, cada um pode se perguntar: de que forma eu permiti que a minha cerca e o meu muro fossem derrubados, e que os animais selvagens (a presença das drogas, do álcool e outras substâncias químicas) me devastassem assim? A partir de quando eu não aceitei mais ser podado(a), corrigido(a), a ponto de ser infestado(a) de espinhos e sarças, tornando-me uma pessoa agressiva, violenta, sem escrúpulos, banal, estranho(a) a mim mesmo(a)? A reportagem da Revista Veja (29/09) sobre o comportamento dos jovens da classe média em relação ao risco de contaminação da Aids reflete a imagem de uma vinha que não se importa em ser tomada por espinhos e sarças...
As palavras do Salmo 80 servem de oração para nós, no dia de hoje: “Voltai-vos para nós, Deus do universo! Olhai dos altos céus e observai. Visitai a vossa vinha e protegei-a!... Convertei-nos, ó Senhor Deus do universo, e sobre nós iluminai a vossa face! Se voltardes para nós, seremos salvos!”. Esta oração fala de conversão, assim como as palavras de Jesus: “o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos” nos convidam à conversão. Conversão significa ter a coragem de visitar a nossa própria vinha e ver os estragos que o nosso comportamento destrutivo tem causado nela.
Hoje é uma boa ocasião para cada um de nós visitar a sua própria vinha. Como está o muro, a cerca? Como estão as minhas defesas diante do mal? Como está o respeito para com os meus próprios limites? Tenho permitido que pessoas, idéias, atitudes destrutivas tenham livre acesso ao interior da minha vinha? Em todo terreno não cultivado crescem espinhos e sarças. Tenho cultivado minha vida de oração? A palavra do apóstolo Paulo nos convida hoje a apresentar a Deus as nossas necessidades em oração, para que a paz dele, que ultrapassa todo o entendimento , guarde os nossos corações (cf. Fl 4,6-7). A oração é o espaço que damos a Deus, para que Ele visite a nossa vinha e nos ajude a cuidar melhor dela. Rezar é permitir que a mão do Jardineiro reconstrua a cerca e reerga o muro da nossa vinha. Rezar é permitir que a mão do Jardineiro nos ensine novamente a cultivar o terreno da nossa vida, para que, ao invés de espinhos e sarças, produzamos os frutos do reino de Deus. A oração tem esse poder de tirar a nossa vinha das mãos dos animais selvagens e devolvê-la a nós, como seus verdadeiros administradores.

Deus te abençoe no cultivo da sua própria vinha, e que Ele encontre os frutos que tem buscado em você.
Pe. Paulo.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Atualizar nosso "sim"

Palavra de Deus: Mateus 21,28-32
Há um refrão bíblico, inspirado no Salmo 19, que diz: "A Palavra de Deus é a verdade; sua Lei, liberdade". Uma vez que no dia 30 deste mês celebramos o Dia da Bíblia, é importante resgatarmos hoje essa noção bíblica da Palavra de Deus como "Lei da liberdade" para nós. A Palavra de Deus é a verdade, a verdade que nos liberta (cf. Jo 8,32); contudo, ela é a verdade que não nos violenta; é a verdade que quer dialogar com a nossa liberdade. Diante do que Deus nos fala, portanto, nós sempre temos a liberdade de dizer: "sim, meu Pai, quero fazer a tua vontade", ou "não, meu Pai, eu não quero fazer a tua vontade". Deus não se impõe; Ele se propõe. Se no evangelho de domingo passado, o Reino dos céus era expresso no convite "Ide trabalhar na minha vinha!", no evangelho de hoje esse convite reflete o quanto Deus respeita a nossa liberdade: "Filho, vai trabalhar hoje na vinha!". A primeira coisa que aprendemos no evangelho de hoje é que para Deus todos os homens são Seus filhos, inclusive aqueles que O rejeitam, aqueles que Lhe dizem "não". A segunda coisa é que o verdadeiro discípulo de Jesus Cristo é aquele que faz a vontade do Pai, vontade expressa nas palavras de Jesus. O povo de Israel - representado aqui pelos sumos sacerdotes e pelos anciãos - aparece na parábola como o filho que disse "sim", mas não fez a vontade do Pai: Israel disse "sim" (cf. Ex 19, 8), mas não cumpriu com a sua palavra (cf. Jr 2,20). Já os pagãos - representados aqui pelos cobradores de impostos e pelas prostitutas - aparecem como o filho que disse "não", mas que depois se arrependeu e mudou de atitude. De propósito, este evangelho nos provoca um questionamento: com qual dos filhos me identifico atualmente? Embora teoricamente eu seja discípulo(a) de Jesus Cristo, na prática tenho dito "sim" ou tenho dito "não" à vontade do Pai? O apóstolo Paulo diz que Jesus nunca foi "sim" e "não", mas somente "sim" ao Pai (cf. 2Cor 1,19-20). Contudo, ninguém de nós pode dizer a mesma coisa de si mesmo(a). Então, quando eu sou "sim" e quando eu sou "não"? Na nossa maneira de pensar, o filho bom é aquele que sempre diz "sim". Mas, muitas vezes, o filho bom não é tão bom quanto pensa ser. Seu "sim" é às vezes, fruto da covardia em questionar o que o Pai está lhe pedindo. Muitos profetas não disseram "sim" a Deus num primeiro momento. Questionaram, debateram, tiveram brigas sérias com Deus, e só depois que estavam convencidos, é que aderiram à vontade do Pai. Às vezes o nosso "sim" não é sincero. Enquanto dizemos "sim" com a boca e mantemos a aparência de bom filho ou boa filha, por dentro sufocamos a nossa agressividade e não deixamos com que a nossa sombra venha à tona. Mas todo "sim" dito dessa forma cedo ou tarde vai se confrontar com um forte "não". E aí precisamos questionar se, de fato, queremos dizer "sim" ao Pai. Muitas pessoas passam anos dizendo "não" a Deus. Aos nossos olhos, elas não têm salvação. Mas pode acontecer que essas pessoas um dia reflitam melhor, percebam as conseqüências do seu "não" e tomem a coragem de mudar de atitude, dizendo "sim". Essas pessoas podem estar na nossa frente no reino de Deus, ou seja, podem entrar primeiro que nós no Reino, pois a resposta delas não foi fruto de "fazer as coisas por fazer", sem pensar ou sem a coragem de questionar a vontade de Deus, mas fruto de um amadurecimento interior e de uma redefinição do modo de viver.
Seja o nosso "sim", seja o nosso "não", a resposta que damos ao que Deus nos fala na Sua palavra sempre tem conseqüências. E a questão fundamental é como lidamos com essas conseqüências. Além disso, o "sim" pode se converter em "não" e o "não" em "sim". Normalmente a mudança do "sim" em "não" é fruto da incapacidade de atualizar o "sim". Ontem eu disse "sim" a Deus e me casei, ou me tornei padre, ou decidi seguir uma religião, ou resolvi abraçar um projeto de voluntariado, etc. Mas hoje a realidade é totalmente outra e todas as mudanças que ocorreram do ontem para o hoje estão colocando novas alternativas para mim, novos valores - ou quem sabe, contra-valores - e aí é hora de eu revisar o meu "sim". Um "sim" que não passa por crises e por sérios questionamentos perde a razão de ser, com o tempo. Teoricamente pode continuar a "falar", mas, na prática, o que "fala" é o "não". O que é bonito neste evangelho é a importância que Deus dá ao nosso hoje, ao nosso agora. Não importam as respostas que demos ontem; importam as respostas que estamos dando hoje; importa o rumo que estamos dando hoje à nossa vida. É bonito o modo como Deus se aproxima de nós: "Filho, Filha...". Ele não chega a nós com violência, nem com ameaças: "E aí, seu 'isso', sua 'aquilo'; você vai continuar a me desobedecer, a me dizer 'não'"? Não. Ele fala conosco a partir de dentro, a partir de uma palavra que diz quem somos para Ele hoje, independente da resposta que lhe demos ontem: "filho", "filha". E assim Ele se propõe a nós: "Vai trabalhar na vinha hoje!".
"Vai trabalhar na vinha hoje!" pode ser traduzido como: "vai retomar o 'sim' que você abandonou por ter ficado doente, por não ter compreendido como Eu pude tirar de você quem você mais amava, por ter desistido de pagar o preço que o seu 'sim' exigia de você naquele momento... Vai, abraça novamente a cruz do seu 'sim', como meu Filho Jesus abraçou a Sua. Vai viver o seu dia de hoje procurando perceber em cada acontecimento, em cada desafio do seu dia, qual é a minha vontade para você. Vai! Não se julgue e não se condene pelo 'não' que você disse até ontem. Aceite o seu passado como o modo como a minha misericórdia conduziu você até aqui. Acolha o seu presente, acolha o seu hoje como o momento onde você pode dizer o seu 'sim' de uma maneira nova, mais consciente, mais madura, mais a partir de dentro. Vai, revise hoje a maneira como você viveu, perceba se as suas atitudes durante o dia foram de acordo com a minha vontade, e decida-se em dizer 'sim' no dia de amanhã, abraçando essa nova oportunidade que a minha graça quer lhe oferecer. Vai, e viva hoje a sua liberdade em comunhão com a Minha verdade".
Tenha uma boa semana!
Pe. Paulo.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Músicas Católicas

Olá pessoal nosso blog está muito massante com muito texto, pois isso procure e encontrei algumas músicas da Toca de assis para conhecermos mais das músicas católicas também. Aproveite e conheça o site da Toca de Assis.
Sou um adorador
A primeira que comungou

Adoramos o verbo

Louvores sejam dados a Ti Jesus


Adoremos Jesus

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Trabalhar pelo Reino

Palavra de Deus: Isaías 55,6-9; Mateus 20 1,16
Santa Teresa Couderc nos dá um conselho para a vida de oração: "Deixa-te modelar. Tu não sabes o que Deus fará de ti". Rezar nada mais é do que colocar-se como barro nas mãos de Deus, o Oleiro, e deixar-se modelar por Ele. Parece fácil, mas como é difícil isso! É difícil porque temos as nossas resistências internas. É difícil porque, quando rezamos, já temos nossa imagem de Deus formada em nós, e a nossa maneira de rezar é a nossa forma de estabelecer o caminho pelo qual Deus virá a nós e nos atenderá. Porém, sempre chega o momento em que a oração "trava", não funciona mais, e o motivo é simples: Deus está querendo nos mostrar que os pensamentos e os caminhos dele não são os nossos. A palavra de Is 55,8 é, na verdade, uma palavra que liberta. Como vimos na semana passada, uma das razões pelas quais nos ferimos é o fato de estarmos fechados naquele beco estreito da nossa maneira de enxergar a vida (nossos pensamentos) e de fazer as coisas (nossos caminhos). Deus então nos convida a sair daqueles esquemas rígidos que não estão mais funcionando, que não estão nos ajudando a ter a vida que Ele quer para nós. Talvez você pergunte: "Mas, quais são os pensamentos e os caminhos de Deus?". O evangelho responde a isso. Ao falar sobre o "reino dos céus", Jesus nos ensina como o Pai entende a vida. Na época em que este evangelho foi escrito, ele respondia a um problema prático. Os pagãos convertidos começavam a entrar na comunidade (igreja) e muitos cristãos de origem judaica (os trabalhadores que foram contratados de madrugada e que suportaram o cansaço e o calor do sol o dia todo), tinham dificuldades em aceitá-los em pé de igualdade - eram trabalhadores "da última hora". Para nós, talvez o evangelho responda a outras questões mais atuais. A maioria de nós passa a vida "trabalhando para os outros", ou trabalhando para sobreviver, para ter o que comer, beber, vestir e dinheiro para se divertir. Qual o sentido do nosso trabalho? Já que passamos a maior parte do tempo no trabalho - e quem mora em cidades grandes passa boa parte do tempo indo para o trabalho - é importante que nos perguntemos pelo sentido que o nosso trabalho dá à nossa vida. Outra questão: no mundo em que vivemos, a pessoa vale pelo que produz. Por isso, são "descartados" os idosos, doentes, portadores de deficiência, etc. Para Deus, o patrão da parábola de Jesus, a pessoa vale pelo que é. Sua dignidade está acima do que ela tem condições de produzir. O valor de uma diária (moeda de prata) é dado também ao que trabalhou só uma hora porque também essa pessoa precisa manter a dignidade da sua família, através do trabalho. Vale lembrar que os que trabalharam somente uma hora o fizeram porque ninguém os havia contratado antes, e não porque não queriam trabalhar. Mas, o que significa trabalhar pelo Reino? Significa tornar o mundo aquilo que Deus sonhou para o ser humano: um lugar de justiça, de vida, de paz, de fraternidade, de felicidade. Significa ajudar a implantar no coração humano, lugar onde Deus de fato quer reinar, os valores do evangelho. Certamente você conhece pessoas que, no passado, acreditaram no ideal do Reino e por ele lutaram, mas hoje "aposentaram o evangelho" e decidiram viver outros valores. Talvez elas se cansaram de "nadar contra a correnteza". Outros passaram a vida toda alheios ao Reino, "muito ocupados em não fazer nada" (2Ts 3,11). E você? Qual é a sua idéia de "reino dos céus"? Qual é o seu envolvimento com esse projeto de Deus para a humanidade? Que imagem surge em você, quando pede ao Pai "venha a nós o vosso Reino"? Enquanto procuramos trabalhar pelo Reino, construir o Reino, é importante permitirmos a Deus de construir Sua obra em nós, o que significa "edificar-nos". Enquanto tentamos modelar ao menos o pequeno mundo que nos circunda segundo os valores do evangelho, é importante nos deixar modelar pelo Espírito de Deus. O exemplo que Jesus usa para falar do Reino é o trabalho numa vinha, numa plantação de uva. Vinha supõe cultivo e cultivo supõe paciência e dedicação. As uvas não brotam na hora em que queremos. Da mesma forma, não somos nós que "fabricamos" o Reino; não podemos controlar a maneira do Pai fazer o Seu Reino crescer em nós e no meio de nós. Por isso, também aqui vale o conselho: "Deixa-te modelar!".
Deus te conceda uma abençoada semana! Pe. Paulo.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O crucifixo

Palavra de Deus: Números 21,4-9; João 3,13-17.

Um dia, numa paróquia em que trabalhei, um cristão não católico perguntou a um católico, que teve um de seus filhos atropelado e morto por um caminhão, se ele pegaria uma parte da lataria do caminhão que matou seu filho e a colocaria na parede para lembrar a morte do filho. Da mesma forma, disse, a imagem de Cristo na cruz é um grande absurdo, uma abominação para Deus. O diálogo entre esses dois homens nos faz pensar no significado do crucifixo para nós hoje, dia em que celebramos a Exaltação da Santa Cruz. Na Europa tem surgido muita discussão sobre a retirada dos crucifixos das salas de aula, por "respeito" aos alunos muçulmanos. Aqui no Brasil, o Banco do Brasil ordenou a retirada dos crucifixos das suas agências. Algumas igrejas evangélicas têm a imagem da cruz em seus púlpitos, mas sem a imagem de Cristo pregada nela, pois alegam que, se Ele ressuscitou, não tem sentido a imagem do Crucificado. Tudo isso nos leva a perguntar: qual o significado da imagem de Jesus Cristo crucificado para nós, hoje? Conforme nos fala o texto de Nm 21,4-9, a imagem de Jesus na cruz começou a ser "rascunhada" muitos séculos antes do próprio Jesus vir ao mundo. Era a época da travessia do deserto, etapa necessária para que Israel chegasse à Terra Prometida. Israel havia perdido a paciência com Deus. Ora, o deserto, por si só, é um lugar difícil, cheio de pedras, cobras e escorpiões. Mas o que torna o deserto mais difícil é a maneira como o encaramos. Se Deus não afastou as serpentes venenosas do caminho de Israel foi para lembrá-lo, e também a nós, de que as dificuldades, os perigos e as ameaças sempre estarão presentes no caminho, e é impossível percorrer o caminho da vida sem nos ferir. Deus é Pai, um Pai que não está preocupado que nós, Seus filhos, passemos pela vida sem nos ferir. Ele, como Pai, está interessado em ver como nós lidamos com as nossas feridas. A questão é saber o que as nossas feridas nos dizem: estou ferido porque me afastei do caminho de Deus? Estou ferido pela minha impaciência e pela minha falta de fé? Estou ferido porque tenho que lutar contra mim mesmo para vencer a tentação de desistir? O sinal da serpente de bronze levantada no deserto convidou Israel a levantar os olhos para Deus como Aquele que cura as feridas: "Eu sou o Senhor que te cura" (Ex 15,26); "É ele quem perdoa todas as tuas faltas e cura todos os teus males" (Sl 103,3); "Ele cura os corações despedaçados e cuida dos seus ferimentos" (Sl 147,3). Mas foi preciso que a humanidade esperasse pelo diálogo de Jesus com Nicodemos, para entender o sentido da imagem do Crucificado. Este é o significado do crucifixo: a proclamação visível de que o Pai "amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,16). O crucifixo é a proclamação do amor incondicional do Pai por todo ser humano. Amor incondicional significa: "amo você, meu filho, estejam as coisas andando bem ou não, consiga você sentir-se amado ou não". A cruz de Cristo é a resposta a uma pergunta de fé: até onde Deus ama? Até onde Deus me ama? Até o fim! (cf. Jo 13,1). Um dia, partilhando minha crise de fé na vida de oração, eu disse a uma irmã religiosa que Jesus tinha uma vida íntima com o Pai, na oração, porque Ele sempre se sentiu amado pelo Pai. Então, a irmã me perguntou: "na cruz Jesus se sentiu amado pelo Pai?". Hoje percebo que é natural que a imagem da cruz diga cada vez menos para nós. Se não nos importamos que ela seja aos poucos retirada do alcance da nossa visão é porque a maioria de nós, cristãos, sabe teoricamente que Deus nos ama, mas não nos sentimos efetivamente amados por Ele. A proclamação de que Deus nos ama a ponto de entregar Seu único Filho pode até ter entrado em nossa cabeça, mas ela ainda não desceu até o coração de muitos de nós. Mas aqui é importante lembrar que o amor de Deus por nós não depende daquilo que sentimos, e sim daquilo que cremos. Jesus sempre viveu em comunhão com o Pai, sentindo-se amado por Ele, mas na cruz gritou: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mt 27,46; Sl 22,2). Jesus morreu rezando as palavras do salmo 22, o mesmo salmo onde lemos mais abaixo: "ele (Deus) não ocultou do pobre a Sua face, mas ouviu-o, quando a Ele gritou" (v.25). Pode até ser que, na sua experiência de cruz, você não se sinta amado por Deus. Mas isso não significa que Ele não ama você; não significa que Ele não conheça a sua ferida e não escute o seu clamor... Então, motivado pela Exaltação da Santa cruz, você pode, a cada dia dessa semana, fazer um exercício espiritual. Dedique ao menos 10 minutos diários para essa oração. Procure um lugar e coloque-se numa posição em que se sinta confortado, feche seus olhos, mentalize a imagem de Cristo crucificado e, acompanhando o ritmo da sua respiração, diga: "Pai, que o meu coração se convença do Teu amor por mim!". Ou, lembrando que o Pai reconciliou em Cristo todos os seres, os da terra e os do céu, realizando a paz pelo sangue da sua cruz (cf. Cl 1,20), diga: "Tudo está reconciliado, tudo está pacificado, tudo em minha vida está abraçado e curado, Pai, por Teu amor incondicional". Repita essa ou outra oração que o Espírito suscitar em você; repita como se fossem gotas de um remédio que você permite que Deus derrame sobre as feridas que as serpentes do caminho da vida abriram em você...
Uma boa oração e uma boa semana!
Pe. Paulo.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O dinheiro é meu pastor; nada me falta.

03 de junho de 2008. O jornal da Gazeta noticia que quatro jovens de uma igreja chamada Geração Jesus Cristo invadem um centro de umbanda na cidade de São Paulo e quebram todas as imagens, gritando: “Demônio! Demônio!”. O acontecimento levanta a acusação de idolatria que muitos evangélicos fazem a nós, católicos, apoiando-se em Mt 4,8-10. Uma vez que neste texto bíblico o diabo oferece a Jesus todos os reinos do mundo e sua riqueza, desde que Jesus se prostre diante dele para adorá-lo, alguns pregadores ensinam em suas igrejas que não se deve prostrar diante de nenhuma imagem porque por trás dela está o demônio.
O nosso problema diante da Palavra de Deus é filtrarmos um mosquito e engolirmos um camelo, como disse Jesus (cf. Mt 23,24); o nosso problema é ficarmos presos à letra, sem compreender o espírito do texto bíblico. Para uma boa parte de cristãos não católicos, a idolatria se resume a imagens. Para a Sagrada Escritura, a questão é bem mais profunda. Se toda imagem fosse um ídolo, Deus não teria mandado Moisés construir duas imagens de anjos para colocar sobre a tampa da Arca da Aliança (cf. Ex 25,17-22), nem mandado fazer a imagem de uma serpente de bronze (cf. Nm 21,4-9), e permitido que Salomão fizesse doze imagens de touros para colocar sobre elas o tanque dos sacrifícios no Templo que o mesmo Deus aceitou como Sua casa (cf. 1Rs 7,23-26; 9,3).
Quando olhamos para o texto de Lc 4,5-8, vemos que, de maneira escancarada, o diabo fala da riqueza do mundo como sendo sua: “Eu te darei todo este poder com a glória destes reinos, porque ela me foi entregue e eu a dou a quem eu quiser”. Não foi à toa que Jesus sempre nos alertou contra o perigo das riquezas, dizendo que não podemos servir a Deus e ao dinheiro (cf. Mt 6,24); que uma pessoa rica dificilmente entrará no Reino dos Céus (cf. Mt 19,23) e que devemos tomar muito cuidado com a falsa segurança que os bens materiais nos oferecem (cf. Lc 12,13-21). Ainda que alguns pregadores repitam aos quatro ventos que a Bíblia contém mais de 2.500 promessas de prosperidade, nenhuma delas pode cancelar o que Jesus nos diz a respeito das riquezas. Deus não pode se contradizer.
A atitude daqueles quatro jovens demonstra que é muito fácil quebrar imagens: elas são feitas de barro. O difícil é reconhecer a idolatria que mora dentro do coração humano e que, especialmente hoje, faz da religião não um caminho de conversão ao Deus vivo e verdadeiro, mas um caminho para a prosperidade. Enquanto a boca de muitos “convertidos” proclama “O Senhor é meu pastor; nada me falta” (Sl 23,1), o coração e as atitudes deles declaram “O dinheiro é meu pastor; nada me falta”. É fácil não se prostrar diante de imagens; difícil é não se prostrar diante da teologia da prosperidade; difícil é não se prostrar diante do fascínio do dinheiro, o ídolo do mundo moderno; difícil é digerir a denúncia da hipocrisia feita por Paulo aos religiosos de seu tempo, que abominavam os ídolos, mas despojavam seus templos (cf. Rm 2,22) – o que equivale à atitude daqueles que hoje desprendem certos versículos bíblicos de seu contexto para fazer propaganda de enriquecimento fácil.
Enquanto nós, cristãos, ainda brigamos uns com os outros usando versículos bíblicos como armas, a maior parte da humanidade padece debaixo de inúmeras injustiças sociais. O que se espera de um discípulo de Jesus Cristo não é a visão míope de quem enxerga o demônio numa imagem de barro, mas a visão profunda de quem enxerga por detrás da fome, do sofrimento e das injustiças sociais, o demônio chamado “ganância material”, “idolatria do dinheiro” ou “idolatria do mercado”. Não é nas casas de umbanda que Jesus Cristo espera que entremos, mas na consciência de todas as pessoas que, mesmo se declarando religiosas, fazem de tudo para prosperar e pouco ou nada fazem para tornar o mundo mais humano e mais justo. É na consciência dessas pessoas que estão os ídolos mais imundos, não nas casas de umbanda.
Pe. Paulo Cezar Mazzi.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Sacramentos do Espírito Santo - Sabedoria

Sabedoria - O segundo favor que o divino Espírito destinou à alma que lhe é fiel na ação é o dom de Sabedoria, ainda superior ao de Inteligência. No entanto, está ligado a este último no sentido de que o objeto mostrado na inteligência é saboreado e possuído no dom de Sabedoria.

O Salmista, convidando o homem a se aproximar de Deus, recomenda-lhe o sabor do soberano Bem. "Provai, diz ele, e experimentai que o Senhor é cheio de doçura". A santa Igreja, no próprio dia de Pentecostes, pede a Deus para nós o favor de provar o Bem, recta sapere, porque a união da alma com Deus é antes uma experiência do gosto do que uma visão, a qual seria incompatível com nosso estado presente. A luz dada pelo dom de Inteligência não é imediata, ela alegra vivamente a alma e dirige seu sentido para a verdade; mas tende a se completar pelo dom de Sabedoria que é como se fosse seu fim.

A Inteligência é então iluminação e a Sabedoria é união. Ora, a união com o soberano Bem se realiza pela vontade, quer dizer pelo amor que reside na vontade. Notamos essa progressão nas hierarquias angélicas. O Querubim refulge de inteligência, mas acima dele ainda está o Serafim abrasado. O Amor é ardente no Querubim, assim como a inteligência esclarece com sua luz viva o Serafim; mas um é diferenciado do outro pela qualidade predominante e o mais elevado é aquele que atinge mais intimamente a divindade pelo amor, aquele que saboreia o soberano Bem.

Que com o auxilio do Espírito Santo, que nos concede seus dons a qualquer hora, nós consigamos vencer a presença do inimigo em nosso coração e consigamos nos apartar das forças do malígno, transbordando nosso coração com as bênçãos que Deus derrama a todo instante. Que sempre tenhamos a certeza de não estarmos sozinhos, pois o Senhor disse:

" Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta?
Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas?
E mesmo que ela o esquecesse, eu não o esqueceria. (Isa 49, 15)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Posicionar-se diante da própria cruz

Palavra de Deus: Romanos 12,1-2; Mateus 16,21-27

Há alguns dias atrás, Jesus nos confrontou com uma pergunta: “quem eu sou para vocês?”. Nós vimos que a resposta a essa pergunta não nasce da nossa cabeça, mas do nosso coração, pois Jesus não é uma teoria, uma doutrina, mas uma pessoa com quem nos encontramos, uma pessoa que fala ao nosso coração, de modo que nossa vida reencontre o seu sentido. Mas o evangelho de hoje nos mostra que Jesus não nos fala aquilo que gostaríamos de ouvir; ele nos fala aquilo que precisamos ouvir.

Pedro não gostou de ouvir Jesus falar de ter que “sofrer muito”, “ser morto” e de “ressuscitar no terceiro dia”. Embora Pedro tivesse respondido corretamente quando Jesus perguntou “Quem eu sou para vocês?”, ele tinha idéias erradas sobre aquilo que pensava a respeito de Jesus. Da mesma forma, nós temos muitas idéias distorcidas a respeito de Jesus Cristo e da nossa própria vida de fé. Quase que instintivamente, nós vemos a religião como algo que nos faz sentir melhores, algo que nos dá paz, ânimo e força para resolver nossos problemas. Embora isso até possa acontecer, não acontece da maneira como pensamos ou desejamos.

Jesus precisou corrigir a visão que Pedro tinha dele: “você não pensa as coisas de Deus, mas, sim, as coisas dos homens”. O próprio Deus já havia dito pelo profeta Isaías: “Os caminhos de vocês não são os meus caminhos... Os meus pensamentos estão muito acima dos pensamentos de vocês” (Is 55,8). Isso significa que nós não estamos tão errados quando buscamos felicidade, bem estar, cura e paz para a nossa vida. O nosso erro está em pensar que essas coisas vão acontecer conforme nós achamos que devem acontecer, como se fôssemos nós a ensinar a Deus a maneira certa de Ele agir em nossa vida. Com muito custo, e não sem sofrimento, nós vamos entendendo que Deus tem outros caminhos para fazer a sua graça chegar até nós.

“Você não pensa as coisas de Deus, mas, sim, as dos homens”. Deus tem uma maneira diferente de ver as coisas. Para Ele, a vida é um dom; para nós, algo do qual nos apossamos. Para Ele, o sentido da vida está em doar-se, fazendo algo em favor daqueles que não têm vida; para nós, está em acumular bens em vista de garantir nossa felicidade de maneira egoísta. Para Ele, o mais importante não é eliminar a cruz, mas aprender dela que a vida comporta sofrimento, renúncia, sacrifício, luta, fidelidade; para nós, o mais importante é tirar a cruz do nosso caminho e alcançar um estado de vida onde não haja mais dor, onde não tenhamos que renunciar a nada, nem lutar, nem pagar o preço da fidelidade.

Jesus, por meio do evangelho de cada dia, não nos fala aquilo que gostaríamos de ouvir, mas aquilo que precisamos ouvir. A cada um ele diz: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”. A primeira questão é querer seguir. Você é discípulo de Jesus Cristo não quando O segue por tradição, mas por um desejo pessoal, por uma convicção do seu coração. Você se torna discípulo quando compreende que Jesus Cristo tem não somente as respostas para as suas perguntas, mas principalmente as perguntas que te levam a um questionamento mais profundo sobre o sentido da sua própria vida. A segunda questão é renunciar a si mesmo, no sentido de não pautar a sua vida pelo seu egoísmo, mas por aquilo que Jesus tantas vezes no evangelho chama de “fazer a vontade do Pai”.

A terceira questão é entender a cruz não como dois pedaços de madeira que pesam sobre seus ombros, mas como a situação de vida onde você se oferece como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; como a atitude de não aceitar que o mundo te deforme (te dê a forma corrompida, adulterada e profanada, próprias do mundo), mas de procurar transformar-se, renovando a sua maneira de pensar e de agir, a fim de que você faça aquilo que Deus considera bom, agradável e perfeito (cf. Rm 12,1-2). Por fim, a quarta questão é seguir Jesus deixando seu evangelho orientar as nossas atitudes, o que significa pagar o preço de sermos seus discípulos, sofrendo as mesmas perseguições que Ele sofreu, mas com Ele sermos fiéis à vontade do Pai até o fim.

O modo como o evangelho de hoje termina nos ajuda a entender que o resultado final da nossa vida não dependerá do fato de termos conseguido eliminar a nossa cruz, mas da maneira como lidamos com ela. Na verdade, não existem duas cruzes – a de Jesus e a nossa – mas uma só cruz: a de Jesus, da qual comungamos pela nossa identidade de discípulos seus; na qual nos oferecemos como Ele se ofereceu, pela redenção do mundo.
Deus te abençoe na fidelidade à sua própria cruz!

Pe. Paulo.

domingo, 31 de agosto de 2008

Sacramentos do Espírito Santo - Inteligência

Estes cinco primeiros Dons apresentados tendem todos para a ação. O Temor de Deus remete o homem ao seu lugar humilhando-o, a Piedade abre seu coração às afeições divinas, a Ciência ensina-o a discernir entre a via da salvação e a via da perdição, a Força o arma para o combate e o Conselho dirige o homem em seus pensamentos e em suas obras. Agora, então, ele pode agir e seguir pela estrada, com a esperança de chegar ao termino. Mas a bondade do Espírito divino lhe reserva ainda outros favores, fazendo-lhe desfrutar desde este mundo, de um antegozo da felicidade que lhe reserva na outra vida. Este será o meio de fortalecer sua marcha, de animar sua coragem e de recompensar seus esforços. A via da contemplação lhe será, de agora em diante, aberta e o Espírito divino nela o introduzirá por meio da Inteligência.

Inteligência - O dom de Inteligência, primeiro favor concedido pelo Espírito Divino, consiste na iluminação do espírito esclarecido desde então por uma luz superior.

Esta luz não retira a fé, mas clareia os olhos da alma, fortificando-os e dando-lhes uma visão mais extensa sobre as coisas divinas. Muitas nuvens provenientes da fraqueza e da grosseria da alma, ainda não iniciada, se desvanecem. A beleza cheia de encantos dos mistérios, a qual era vagamente sentida, se revela; inefáveis harmonias que nem eram suspeitadas, aparecem. Não é a visão face a face, reservada para o dia eterno; mas já não é mais aquela fraca luminosidade que dirigia seus passos. Um conjunto de analogias e de concordâncias mostram-se sucessivamente aos olhos do espírito, trazendo uma certeza cheia de doçura. A alma se dilata com essas claridades que enriquecem a Fé, aumentam a Esperança e desdobram o Amor. Tudo parece novo; e quando a alma olha para trás, compara e vê claramente que a verdade, sempre a mesma, agora é alcançada por ela de maneira incomparavelmente mais completa.

A leitura dos Evangelhos a impressiona mais; encontra um sabor nas palavras do Salvador desconhecido para ela até então. Compreende melhor o fim a que Ele se propôs instituindo os Sacramentos. Está longe do escrúpulo como do relaxamento e sempre atenta para logo reparar os danos que pôde cometer. Algumas vezes, o próprio Espírito a instrui por uma palavra interior que, quando ouvida, ilumina sua situação com uma nova luz.

O dom de Inteligência derrama também na alma o conhecimento de sua própria via. Faz com que ela compreenda o quanto são sábios e misericordiosos os desígnios do alto que, muitas vezes, a quebra e a transporta para onde não contava ir. Se acontecer de ser chamada para dar conselhos, para exercer uma direção por dever ou por motivo de caridade, pode-se confiar nela; o dom de Inteligência a esclarece para os outros como para ela própria. No entanto não se intromete, dando lições àqueles que não lha pedem; mas se é interrogada, responde e suas respostas são luminosas como a chama que a ilumina.

Devemos implorá-lo ao divino Espírito com todo ardor de nossos desejos, convencidos de que o atingiremos mais seguramente pelo impulso do nosso coração do que pelo esforço de nosso espírito.

sábado, 30 de agosto de 2008

Sacramentos do Espírito Santo - Conselho

Conselho - O dom da Força que reconhecemos ser necessário para a obra da santificação do cristão, não seria suficiente para assegurar esse grande resultado, se o Divino Espírito não tomasse o cuidado de uni-lo a outro Dom que vem em seguida e afasta todo perigo. Este novo benefício consiste no dom de Conselho. A Força não podia ser deixada sozinha: precisava de um elemento que a dirigisse.

Nas diversas situações em que podemos nos encontrar nas resoluções que devemos tomar, é necessário que ouçamos a voz do Espírito Santo e é pelo dom de Conselho que esta voz divina chega até nós. É ela quem nos diz, se quisermos escutá-la, o que devemos fazer e o que devemos evitar, o que devemos dizer e o que devemos calar, o que podemos conservar e ao que devemos renunciar. Pelo dom de Conselho, o Espírito Santo age em nossa inteligência, assim como o dom da Força age em nossa vontade.

O Espírito Santo, pelo dom de Conselho, arranca o homem de todas essas inconveniências. Mantém a alma atenta àquilo que é verdadeiro, ao que é bom, ao que é verdadeiramente vantajoso. Sob a direção do dom de Conselho, o cristão nada tem a temer. O Espírito Santo toma a responsabilidade de tudo para ele.

Que importa que o mundo reclame ou critique, que se espante ou se escandalize! O mundo se crê sábio; mas não tem o dom de Conselho. É daí que vêm, muitas vezes, as resoluções tomadas sob uma inspiração e que acabam em um fim diferente do que foi proposto. E tem que ser assim; porque foi ao mundo que o Senhor disse: "Meus pensamento não são os vossos pensamentos e meus caminhos não são os vossos caminhos".

Se o Espírito Santo nos encontra desligados das idéias humanas, convencidos de nossa fragilidade, dignar-se-á ser nosso Conselho; mas se somos sábios a nossos próprios olhos, Ele retirará sua luz e nos abandonará a nós mesmos.
Bendito seja Jesus que nos enviou seu Espírito para ser nosso condutor e bendito seja este Divino Espírito que se digna nos assistir sempre e que nossas resistências passadas não afastaram de nós!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Sacramentos do Espírito Santo - Fortaleza

Fortaleza - Nas dificuldades e nas provações da vida, o homem é tanto levado à fraqueza e ao abatimento, quanto empurrado por um ardor natural, que tem sua fonte no temperamento ou na vaidade.

Esta dupla disposição pouco ajudará na vitória dos combates pelos quais a alma deve passar para sua salvação. O Espírito Santo trás então um novo elemento como força sobrenatural, que lhe é tão próprio, que o Salvador, ao instituir seus Sacramentos, estabeleceu dentre estes um que tem por objeto especial nos dar esse Espírito divino como princípio de energia. Está fora de dúvida que tendo de lutar durante esta vida contra o demônio, o mundo e nós mesmos, precisamos de outra coisa para resistir além da fraqueza de ânimo, a da audácia do inimigo.

Temos necessidade de um dom que modere em nós o medo e que, ao mesmo tempo, tempere a confiança que seríamos levados a ter em nós mesmos. O homem assim modificado pelo Espírito Santo certamente vencerá, pois a graça substituirá nele a fraqueza da natureza ao mesmo tempo em que corrigirá a impetuosidade.

Mas o Espírito Santo não falta nunca e quando encontra uma alma resolvida a fazer uso da Força divina da qual Ele é a fonte, não somente lhe assegura o triunfo, mas a estabelece numa paz cheia de doçura e de coragem que a leva à vitória sobre as paixões. Tal é a maneira pela qual o Espírito Santo aplica o dom de Força no cristão, quando este deve exercer resistência. Dissemos que este precioso Dom trazia ao mesmo tempo a energia necessária para suportar as provações cujo prêmio é a salvação. Há temores que gelam a coragem e podem levar o homem à sua perda. O dom de Força os dissipa, substituindo-os por uma calma e uma segurança que desconcerta a natureza.